O medo nos acorrenta!
Lembrei-me estes dias de uma experiência que vivi há alguns anos atrás quando morei fora do Brasil. Naquela época, o caminho que ia dar na escola de meu filho mais novo, tinha uma casa com um grande cachorro nervoso que latia para nós, (para mim e meu filho), sempre que passávamos por lá. O cão tinha uma feição de mau encarado, e quando nos via, corria para a grade que cercava o jardim da casa, colocava meio corpo para cima da grade e começava a latir feito um desesperado. Eu passava por ali, desconfiada e com os instintos em alerta, pronta pra defender meu filho de qualquer possível ataque que pudêssemos sofrer. O fato é que o cão era enorme, muito maior do que aquela grade! Ao latir para nós, ele projetava quase metade de seu corpo para fora e seus olhos brilhavam parecendo que estava com raiva de nós. Eu via veias inchando em seu pescoço. Aquilo me incomodava de uma forma estranha. Nunca tive medo de cachorros, mas aquele bicho podia a qualquer momento me colocar em maus lençóis. Confesso que comecei a orar pedindo proteção para passar ali... o que de certa forma me tranquilizou. Mas esta cena se repetiu por muito tempo, eu trafeguei por aquele caminho por quase 1 ano. E sempre era a mesma coisa: veias inchadas, corpo projetado para fora, olhos brilhantes de raiva. Comecei a pensar sobre aquilo, e me perguntar: poque ele não pula? o bicho era grande, estava solto por trás da cerca! Seria facílimo alcançar-nos em menos de um minuto! E foi quando uma revelação chegou em meu coração: Medo! O cão estava aprisionado pelo medo. Aquele cão vivia em um espaço limitado, era seu domínio. Um pequeno espaço que ele conquistou e defendia. Mas sua vida era limitada àquele pequeno espaço. Apesar de sua força e de seu tamanho, suas patas não ultrapassavam nem um centímetro além daquela pequena cerca. Era como se uma corrente o segurasse dando apenas uma pequena folga que o permitia ir até ali. Ele foi criado assim, com esta corrente invisível que determinou seu limite de atuação. Um dia adotei uma cadela que veio da rua. Ela não respeitava limites. Ela amava minha família. Mas, uma vez que a porta ficasse aberta, saía e explorava o mundo sem nenhum obstáculo. Ela era absolutamente livre em sua alma. Mesmo que estivesse dentro de casa, sua alma era festiva, diferente. Como se o mundo a pertencesse e a qualquer momento, que surgisse uma oportunidade ela estaria pronta para encarar e se aventurar em uma escapada pela rua. Hoje tenho outro cão, chegou em minha casa filhote. Não é acostumado com a rua. Quando entra visita na casa, ele late em desespero mostrando ao estranho que chega em seu espaço "seguro", todas as defesas que conhece. É visível o medo que sente. Se o chamamos para sair para fora da porta, com um estranho lá, não tem acordo que o faça vir para fora e enfrentar aquele desconhecido. (barulho insuportável!!!)
E naqueles dias, a revelação que recebi foi de que agimos muitas vezes, em nossa vida, como estes animais. Somos criados com limites. As pessoas criam cercas e correntes espirituais que as fazem viver limitadas por seus medos. Vive-se ali naquele pequeno limite cercado por uma parede invisível de impossibilidades. Cada um dos elos da corrente que nos limita foram fabricadas por um material chamado: "não posso", "não consigo", "não vai dar certo", "não é seguro" e muitos outros "nãos". E o resultado é uma vida restrita, talvez medíocre, sem lugar para sonhos! Ficamos ali olhando o mundo daquele lugar confortável, nossas narinas inflam com os cheiros do mundo, mas nossa mente afasta tudo e todos que tentam nos tirar deste espaço, fazemos muito barulho, mostramos argumentos para convencer as pessoas e as oportunidades de que não devem chegar perto. Não queremos a corrente, mas não permitimos sermos libertos. Muitas vezes as correntes são construídas desde a infância, através das situações de vida que passamos. Fomos criados sendo convencidos de que lá fora, quando escurece um "bicho papão" nos aguarda! Mas finalmente, quando amadurecemos, quando podemos ter condições de reavaliar de forma lógica as nossas novas possibilidades, o medo já é tão concreto que cega a nossa visão crítica. Trazemos nosso "bicho papão" de estimação. Vemos outras pessoas conquistando e simplesmente aceitamos que as conquistas não nós pertencem, pois somos conformados com um pequeno jardim, seguro.
E finalmente, deixamo-nos ser acorrentados em todas as áreas de nossa vida. Nos relacionamentos, pessoas não conseguem dar um passo para sair de sua condição segura. Na área profissional, pessoas desistem antes mesmo de tentar empreender, novos cursos, novos projetos, viagens, mudanças... O novo nos ameaça! É também, por isso, que as pessoas que creem em Deus, vivem poucos milagres em suas vidas. Pois não ousam crer em coisas grandes, sentem medo da decepção. E o medo confronta a fé, e consequentemente ameaça a graça, uma vez que: "O justo viverá pela fé!".
Temos que ser ousados. Temos que buscar conquistar fora de nosso ambiente seguro. Sair de trás da cerca, quebrar as correntes da insegurança e aceitar o melhor de Deus para nossa vida. Capacidade para a conquista? Isto vem de Deus, pois nenhuma boa dádiva que chega em nossa mãos vem de outro lugar que não das mãos dEle! A única coisa que nos impede de chegar lá é nossa atitude. Podemos passar nossa vida inteira como aquele cão, latindo para tudo que passa ao nosso redor, para que nada venha promover mudança, ou podemos olhar em volta com o espírito preparado para correr e atravessar as portas que se abrem para nós mostrando a rua movimentada e barulhenta do futuro.